Tebedai

Bailemos, bailemos à luz do luar,
Que a vida não pára, lá vai passar.
Na sombras do verde gondão de mil braços
Já voam as moscas-de-fogo aos abraços.
Reparem! Lá dançam no luar as estrelas,
Sárão todo d’oiro, doiradas chinelas.
Era uma vez um malai português
Que em todo o batuque dançava por três.
Tanto bailou com as moças alegres
Tanto bailou que lhe deram as febres.
Tanto bailou e tornou a bailar,
Que até para a cova lá foi a dançar.
Bailemos, ao som dos sagueiros.
Não têm toada mis fina os ribeiros.
Suspiros das folhas do verde gondão,
Abraços e beijos, são do coração.
Bailemos, bailemos, à luz do luar,
Que a vida não pára, lá vai passar.

À casuarinas do cemitério de Dili

Sonho escuro dos mortos embalai,
Prece das casuarinas!
Vozes vagas dos mortos, ciciai
Nas folhagens franzinas!
Já no céu, resplandece esmorecendo
A púrpura do dia.
Passa a aragem do pântano gemendo
Na romagem sombria.
Que murmuram as bocas das raízes
Aos mortos a sonhar?
Que lhes dizes, ramagem? Que lhes dizes,
A reza e a embalar?

Fulan Naroman

A infinda noite opalescente
Sobe, arrebatadoramente,
A fugir de todo o olhar,
Céu tão claro, tão surpreendente,
Que sente a alma, longinquamente,
Como um voo do céu aflar.
A asa translúcida e nevada
Roça de leve a cumeada,
Adeja, e perde-se a alvejar
Na azulada noite doirada...
Presença alada enamorada
Da imensidade do luar.

Reisebilder

E eis-te no fim do mundo,
Costa verde e vermelha de Timor!
Mas que divina, extraordinária cor,
A do teu céu, a do teu mar profundo!
É d’oiro a manhã de Dili.
Trilla tão lindo o corlílli.
Na frescura das ribeiras.
Murmura perpetuamente
A verde sombra virente
Das gaboeiras
À contemplação da paisagem em Fahi-ten


Saudades são a lembrança
Dalgum bem que nos deixou
P’ra sempre, e sem esperança
De volta, o bem que passou.
E passa mesmo a lembrança
De todo o bem que findou
Depois de uma viagem de regresso Lahane
Alto vale de Lahane, ermo e divino,
No murmúrio das águas! Quantos dias
Por tuas sombras divaguei, absorto
Na beleza da vida morredoira,
Face do mundo misteriosa e vária...
Notas explicativas de alguns termos.

Crisantemas

Tão longe do Fúsi-no-Yama,
No nosso outono, as exiladas
Crisantemas da terra em chama,
Florescem em tardes geladas.


Do seu canto natal de flama
Ainda mal desacostumadas,
Florescem em tardes geladas,
Tão longe do Fúsi-no-Yama!


E uma noite negra de lama,
As que viam noites doiradas,
Caem nas charcas, desfolhadas...
Longe de tudo o que se chama,
Tão longe do Fúsi-no-Yama!

Oração do Fim

Sol poente – coração de gládios trespassado...
Ó luz do entardecer, ó Senhora das Dores!
Esconde-nos, ó mãe! O coração magoado
N´um manto virginal de mortos esplendores.


Salve-Rainha, mãe d´infinita doçura!
Do azul onde agoniza a nossa alma sem norte
Lança o místico olhar de luz e d´amargura
Sobre a eterna Injustiça, e a prodridão da morte.


A ti brindamos,nós, degradados do mundo
Envolve-nos, Senhora! em teu manto sereno...
A terra é trist, e o céu tão distante e profundo
É ruivo e flavo como o doce Nazareno.


Toda em sangue ressurge a tragédia divina!...
Ó Jesus, ó Jesus! Erram já pelos céus
Sobre a tua nudez purpurada e franzina
Trevas e sombra – a dor e a maldição de Deus.


A noite vem descendo, e os seus vagos terrores...
Esconde-nos, ó luz! n´um manto d´oiro e rosa,
Ó luz de entardecer, ó Senhora das Dores,
Ó clemente, ó piedosa, ó dolorosa!

Tankás E Kai-Kais

Ó pobre como te abrigas
Com rios de lés a lés!
Ai casitas das formigas
Nas chuvas do quinto mês.


É uma nevada
De flores... Não, lá vem ver-me
A minha amada!


Quisera dar-te um colar
Enfiando todas as lágrimas
Que me tens feito chorar.


Ao vir do outono,
Ao vir da tarde,
Minha alma chora.
Sentem-se as folhas
Cair lá fora.


Uma maneira há somente
De neste mundo viver
Que possa satisfazer:
É viver-se tristemente.


É o outono. A avesita
Que voa só, além,
No céu tão carregado
Olha-a triste também.


À luz vermelha da tarde
O repuxo é brasas, arde.


Lábios de amante,
Flor rubra e fria.
Um pavão branco
A manhã de invernia


Riso da sua boca, vai voando,
Vai-te poisar no cerejal em flor.
Vem, aroma vermelho, fino e branco,
Vem perfumar meu coração de amor